Mãe acusa escola de negligência após filho autista ser abusado sexualmente em Cambé

Uma estudante de medicina veterinária acusa de negligência a direção de uma escola municipal de Cambé (Região Metropolitana de Londrina), após o filho dela, de apenas 7 anos, ser vítima de abuso sexual, supostamente praticado por um colega de turma da mesma idade. O menino é autista verbal e contou sobre o ato somente três meses depois. Para evitar represálias, o nome da escola e a identidade dos envolvidos não serão divulgados.

A jovem relatou à reportagem que a situação ocorreu em maio. A vítima, entretanto, só conseguiu falar sobre o assunto com a família em agosto. Segundo a denunciante, ela tem certeza sobre a data porque o menino disse que tudo aconteceu pouco tempo depois da festa de Dia das Mães.

“O meu filho é autista verbal e não tem muita noção do tempo. Estava com muita vergonha de falar, porque era uma coisa esquisita para ele e que estava ocorrendo na escola. Foi um coleguinha que já fazia bullying. Ele [a vítima] disse que aconteceu várias vezes. Sempre na hora do recreio esse menino o perseguia e abusava dele no banheiro”, afirmou a mãe, em entrevista ao Portal Bonde. 

Ela também contou que já havia percebido atitudes “estranhas” do filho, que constantemente pedia para ir embora na hora do recreio.

Denúncia à escola

A mãe procurou a secretaria da escola para falar sobre a situação, mas, segundo ela, foi desencorajada pela diretora a registrar um BO (Boletim de Ocorrência) na Polícia Civil. “No dia que contei sobre o ocorrido, eu disse que ia tomar todas as medidas cabíveis para que isso não acontecesse com mais ninguém.”

Ela relembrou que, no dia seguinte, foi contatada pela diretora da instituição e uma assistente social, momento em que fizeram uma reunião para aprofundar os detalhes sobre o abuso sexual sofrido pelo menino. Foi nesta reunião que, segundo ela, as profissionais a coagiram.

“No outro dia, eu estava em Londrina e ela [a diretora] e uma assistente social da Secretaria da Educação [de Cambé] vieram para falar sobre o meu filho. Nos deslocamos para a escola e fizemos uma reunião. Elas foram totalmente invasivas e tentaram me coagir o tempo todo, falando que, se eu processasse alguém, envolveria gente grande. Na hora fiquei quieta, porque estava apavorada. Sou autista também. Ela [a diretora] disse que era direito meu, mas era melhor não [registrar o BO], porque ia envolver pessoas maiores”, explicou.

Para a responsável pelo menino, o problema é ainda mais grave porque o colega de turma envolvido tem histórico de praticar bullying com a vítima e outras crianças, “tudo relatado à direção anteriormente”. “Eles acham que o meu filho está inventando porque é autista”, expôs.

Registro do BO

Depois de todos os acontecimentos, a estudante se dirigiu à delegacia a fim de registrar o BO. Ela relatou ter encontrado dificuldades durante todo o processo.

“Liguei para a Polícia Civil, mas fui encaminhada para o Conselho Tutelar, que me encaminhou para a Polícia Civil de volta. Tive que mandar um e-mail para a corregedoria de ambos os órgãos. O superintendente da Polícia Civil me ligou e marcou um horário para eu ir à delegacia com o meu advogado. Só assim consegui registrar o BO e fazer o exame de corpo de delito, em 22 de setembro, no IML [Instituto Médico-Legal] de Londrina”. A reportagem não teve acesso ao laudo médico.

A assessoria de imprensa da Polícia Civil foi procurada e disse que investiga a situação, mas por envolver duas crianças menores de 12 anos, o caso foi encaminhado ao Conselho Tutelar. 

Acompanhamento psiquiátrico

Por conta dos acontecimentos, o menino teve um surto e precisou ser acolhido pelo HC (Hospital das Clínicas) de Londrina. Ele está recebendo acompanhamento psiquiátrico.

“Ele ficou muito agressivo e surtou. Inclusive, o troquei de escola. Ele está estudando em Londrina. Tivemos que chamar o Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência] por causa do surto. Agora, está sendo tratado no HC com acompanhamento psiquiátrico”, explicou a mãe.

Resposta da prefeitura de Cambé

Antes de procurar a assessoria de imprensa da Prefeitura de Cambé, a reportagem entrou em contato com a diretora da escola, mas a profissional não quis responder sobre as acusações.

Na sequência, a prefeitura do município informou que acompanha “com atenção e sensibilidade” o caso. Segundo a nota oficial, a denúncia apresentada pela mãe do menino de 7 anos foi acolhida e, desde então, “todas as providências estão sendo encaminhadas e averiguadas por órgãos competentes, além de que as crianças e suas famílias estão recebendo acompanhamento integral e multidisciplinar das equipes especializadas”.

A assessoria de imprensa destacou, entretanto, que ambas as crianças estão abaixo da idade prevista em lei para qualquer responsabilização criminal. “Nesse sentido, todas as ações adotadas têm caráter exclusivamente protetivo, buscando garantir o bem-estar e o cuidado de cada uma delas.”

“A preservação da identidade e da dignidade dos envolvidos é fundamental e será rigorosamente respeitada. A prefeitura reafirma seu compromisso com a proteção da infância e está à disposição para colaborar com as autoridades policiais e judiciais em todas as etapas da apuração dos fatos”, destacou outro trecho da nota.

Parte superior do formulário

Parte inferior do formulário

Sobre a direção da escola, a secretaria de Educação de Cambé informou que “a diretora fez o trabalho dela de forma correta, ouvindo a mãe, inclusive acompanhada de assistente social para documentar”.

Fonte: Bruno Souza – O Bonde

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