Enquanto quase 90% dos brasileiros acima de 10 anos possuem celular, segundo o IBGE, apenas 3% do lixo eletrônico é reciclado no País, de acordo com o relatório Monitor Global E-lixo da Organização das Nações Unidas (ONU). Mas quais são os impactos desse cenário ao meio ambiente? O descarte inadequado de eletrônicos libera substâncias tóxicas que contaminam o solo e a água, colocando em risco tanto a natureza quanto a saúde humana.
“Eletrônicos contêm substâncias tóxicas ao meio ambiente. Podem conter metais pesados como chumbo, cádmio e mercúrio, que contaminam solo e água”, explica ao Terra Fernando Rodrigues, engenheiro ambiental e gerente de relações institucionais da Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos (ABREE).
“Se o aparelho vai para o lixão, esses metais podem entrar na cadeia alimentar, por exemplo, através de peixes ou plantas contaminadas, e afetar também o sistema nervoso humano.” – Fernando Rodrigues, engenheiro ambiental
Em um mundo onde smartphones, notebooks, monitores, tablets e diversos outros dispositivos eletrônicos se multiplicam rapidamente, o volume de lixo eletrônico cresce na mesma proporção que os avanços tecnológicos. Mas há formas de descartar adequadamente esses aparelhos, que serão destinados para reutilização, reciclagem e tratamento correto dos componentes.
De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010), apenas os rejeitos podem ser destinados a aterros sanitários. Já o descarte de eletrônicos em lixões ou na natureza é ainda mais prejudicial, exigindo uma destinação mais nobre por meio da reciclagem.
E como fazer o descarte correto?
No Brasil, o sistema de logística reversa de materiais eletrônicos funciona principalmente através de pontos de entrega voluntária. A Vivo tem o projeto ‘Vivo Recicle’, por meio do qual a empresa já destinou para reciclagem mais de 5,3 milhões de itens e 187 toneladas de resíduos ao longo de nove anos.
A empresa acaba de lançar uma nova campanha, com o DJ e embaixador da marca Alok, para incentivar o descarte correto de eletrônicos em urnas alocadas nas mais de 1,8 mil lojas da Vivo espalhadas pelo país. O lixo eletrônico coletado é reciclado por uma empresa especializada, a Ambipar. Depois, os componentes voltam para a indústria para serem transformados em matéria-prima na elaboração de novos produtos,
A ABREE também disponibiliza em seu site (www.abree.org.br) um sistema prático para a localização de pontos de coleta: basta inserir o CEP para identificar o local de entrega mais próximo. Atualmente, a associação mantém mais de 3.500 pontos de recebimento distribuídos em 1.200 municípios brasileiros.
Esses pontos de coleta estão estabelecidos em parceria com redes varejistas (supermercados, lojas de bairro e shoppings) e prefeituras, que disponibilizam ecopontos para recebimento. Após a entrega dos equipamentos, a ABREE assume a responsabilidade pelo transporte e pela destinação final ambientalmente correta.
O processo segue os princípios da economia circular: os aparelhos são desmontados e seus componentes — plásticos, vidros e metais — são encaminhados para indústrias específicas de reciclagem. Dessa forma, os materiais são reinseridos no mesmo ciclo produtivo ou em outros processos industriais, transformando-se em novos produtos como cabides, carpetes ou até mesmo novos componentes eletrônicos, fechando o ciclo de forma mais sustentável.
“Essa abordagem não apenas reduz a extração de recursos naturais, mas também evita a contaminação do solo e da água por substâncias tóxicas presentes nos eletrônicos”, destaca Rodrigues.
Conscientização e desafios
“Estamos em um processo de evolução, mas o nível de consciência ambiental ainda não atingiu a maturidade que gostaríamos. Ainda assim, a gente vê que os consumidores estão cada vez mais engajados e mais conscientes do seu poder no momento de escolha”, afirma Rodrigues sobre os desafios do descarte adequado.
Uma iniciativa recente do ‘Vivo Recicle’ em conjunto com a Fundação Telefônica mobilizou estudantes e ajudou a reciclar 29 toneladas de eletrônicos, o equivalente a 30 carros populares. Os estudantes participaram de atividades de conscientização ambiental, e a ação passou por nove cidades brasileiras, envolvendo 24 escolas e duas instituições sociais.
Já a ABREE desenvolveu a plataforma ‘ABREE pra Educação’, que produz materiais didáticos, vídeos e cartilhas para o público infanto-juvenil. Para adultos, a associação ainda oferece um curso gratuito de economia circular, disponível em seu site.
Fernando Rodrigues enfatiza o papel do consumidor nesse processo de circularidade. “A indústria cumpre a logística reversa por lei, mas o consumidor decide se o resíduo vai para aterros, lixões ou para a reciclagem. Convidamos todos a verificar em casa eletrônicos sem uso e levá-los aos nossos pontos de coleta. É ganho de espaço e um bem para o planeta”, diz o especialista.
